Trombose

Trombose: uma abordagem preventiva

 

                                            

A trombose é a formação de coágulos (trombos) que bloqueiam a circulação do sangue ou deslocam-se pela corrente sanguínea. Resultado do desequilíbrio no mecanismo de coagulação sanguínea, pode levar a complicações como a trombose venosa e a trombose arterial (relacionada ao infarto do miocárdio e ao derrame cerebral, ou AVC).

Avanços em terapias anticoagulantes e antiagregantes plaquetários têm ajudado a salvar milhares de vidas. Mas, apesar de a prevenção por meio de medicamentos ser bem conhecida, ela nem sempre é adotada. Por isso, ainda é elevada a incidência de processos trombóticos entre pacientes internados para a realização de cirurgias complexas, sobretudo os de faixa etária mais elevada.

Entre esses processos, destacam-se o tromboembolismo venoso (TEV), que engloba a trombose venosa profunda (TVP) e sua complicação mais grave, a embolia pulmonar, que ocorre quando o coágulo que se desloca pela corrente sanguínea atinge os pulmões, impedindo a oxigenação do sangue. Existem vários fatores de risco para estas situações, sendo idade e imobilidade os mais importantes. Estima-se que 50% dos casos de tromboembolismo venoso acontecem após a alta hospitalar.

Dados de 2007 do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (Datasus) relativos a São Paulo mostram uma frequência de 22,8% de TVP em pacientes com mais de 40 anos submetidos a cirurgias abdominais. Levantamento da Universidade Estadual de Londrina (UEL) revelou incidência de 63% deste tipo de trombose em pacientes com fratura de fêmur ou de quadril, sendo 54% ainda antes do ato cirúrgico. Isso se deve principalmente à imobilização do paciente e à falta de profilaxia com medicação antitrombótica. Sem movimentos, a circulação se torna mais difícil, aumentando a probabilidade de formação de trombos. O risco aumenta com a soma de outros fatores.

As heparinas não-fracionadas (HNF), primeira classe de medicamentos anticoagulantes, chegaram ao mercado por volta de 1940 e até hoje são utilizadas. Em 1954, foi lançada a varfarina, anticoagulante de uso oral. Atualmente, mais de 80% dos pacientes com indicação para terapia de anticoagulação fazem uso de medicamentos de via oral, beneficiados pelo seu custo competitivo e pela praticidade e comodidade do tratamento.

Uma nova geração de heparinas surgiu em 1993: a heparina de baixo peso molecular (HBPM), tida até hoje como indicação de ponta nas terapias anticoagulantes hospitalares. Mais recentemente foram lançados os chamados novos anticoagulantes orais (inibidores de trombina e do fator X ativado). Esta nova classe de medicação promete maior eficácia e efetividade, com menor risco hemorrágico, sem necessidade de controle por exames laboratoriais.

Prevenção

A conduta convencional é baseada na terapia com os anticoagulantes heparina não-fracionada, heparina de baixo peso molecular e os chamados novos anticoagulantes orais, prescritos nos casos de procedimentos cirúrgicos de alta complexidade, como as cirurgias ortopédicas. Quando utilizadas, essas drogas têm se mostrado altamente eficazes para prevenir tromboses.

Fatores de risco mais conhecidos, avaliados para indicação da tromboprofilaxia:

  • História anterior de tromboembolismo;
  • Cirurgia que necessita de mais de 30 minutos de anestesia;
  • Imobilização prolongada;
  • Acidente vascular cerebral (derrame);
  • Insuficiência cardíaca congestiva;
  • Câncer;
  • Fratura de pelve, fêmur ou tíbia;
  • Gravidez ou parto recente;
  • Terapêutica com estrógenos;
  • Idade maior que 40 anos;
  • Doença inflamatória intestinal;
  • Trombofilia genética ou adquirida.

Por essa razão, vem ganhando relevância a abordagem profilática, com a adoção da chamada tromboprofilaxia, que visa à prevenção. “Hospitais de ponta e centros de excelência, com certificações de qualidade, já adotam protocolos de avaliação para o risco de processos trombóticos em pacientes internados. “Quando há indicação, a terapia anticoagulante é administrada profilaticamente em indivíduos submetidos a tratamento clínico e/ou cirúrgico, dependendo dos fatores de risco, identificados logo no primeiro contato das equipes médica e de enfermagem com o paciente”, afirma o Dr. João Carlos Guerra, hematologista e patologista clínico, responsável pelo Laboratório de Técnicas Especiais em Coagulação, do Departamento de Patologia Clínica, e membro do Programa de Hematologia e Transplante de Medula Óssea do Einstein.

Além disso, segundo o médico, simples medidas mecânicas, como a deambulação (fazer o paciente caminhar), a elevação dos pés da cama do paciente, o uso de faixas ou meias de compressão, a fisioterapia e a retirada precoce do leito podem reduzir o risco de processos trombóticos.

Assim como na conduta convencional, a tromboprofilaxia pode ser monitorada por meio de exames laboratoriais para avaliar a coagulação do sangue. A medida tem o objetivo de controlar o risco de sangramentos, que podem ocorrer devido à ação dos anticoagulantes, principalmente em gestantes, pacientes com insuficiência renal e obesidade mórbida.

O risco de hemorragias faz com que a terapia anticoagulante e a tromboprofilaxia sejam contraindicadas para pacientes com propensão a sangramentos, como úlcera gástrica. Por outro lado, os danos causados por processos trombóticos podem ser muito mais graves do que eventuais sangramentos. Portanto, cabe ao médico, e só a ele, avaliar a relação risco-benefício para cada paciente.