Edificados em nome da saúde, hospitais também podem ameaçá-la. Quando o atendimento aos pacientes é feito ao custo de impactos sociais, ambientais e econômicos, transformam essas instituições dedicadas ao bem-estar das pessoas em agentes poluidores, criando condições que favorecem a propagação de doenças e aumentando os custos da saúde.
Consumidores de toneladas de insumos, equipamentos, acessórios, medicamentos e embalagens, hospitais geram impactos proporcionais. De uma forma ou de outra, tudo isso acaba virando lixo. São papéis, plásticos, metais, vidros e resíduos diversos, cujo descarte e processamento podem resultar em subprodutos que contaminam o solo e a água. Não custa lembrar que a água potável que tomamos costuma trazer resíduos de quimioterápicos, anti-inflamatórios e outras drogas – seja pelo descarte inadequado desses produtos ou no processo natural de eliminação pelo organismo.
Parte do lixo gerado pelos hospitais tem tratamento especial devido às suas características químicas e/ou infectantes. Mas mesmo esse processo não é feito a custo zero para o meio ambiente. As tecnologias de desinfecção ou incineração também resultam em resíduos sólidos, líquidos e gasosos. O lixo orgânico, por sua vez, irá se decompor em aterros, produzindo gás metano, 20 vezes mais poluidor que o gás carbônico (CO2). “Aqui no Brasil, um grande hospital gera, por ano, em média, um volume de lixo capaz de encher sete estádios de futebol como o do Morumbi”, compara o Dr. Marcos Tucherman, gerente de Saúde, Segurança e Meio Ambiente do Einstein.
“Além disso, funcionando 24 horas por dia, sete dias por semana, hospitais demandam altas doses de recursos cada vez mais escassos, como água e energia”, completa ele. De acordo com estudo publicado no site da Organização Mundial da Saúde (OMS), as instituições de saúde do Brasil respondem pelo consumo de 10,6% do total da energia comercial do país.
Desafios complexos
Todos esses são efeitos colaterais perigosos de uma medicina desafiada pelo contexto das mudanças climáticas, da exploração predatória dos recursos naturais e do envelhecimento da população, cada vez mais vulnerável às doenças crônicas e neoplasias agravadas pelos desequilíbrios ambientais, como aumento da poluição e exposição a água e alimentos contaminados. “Nossa função é a manutenção da saúde. Não podemos ter práticas contrárias a isso”, afirma o Dr. Luiz Vicente Rizzo, diretor de Pesquisa do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa do Einstein. “Instituições de saúde não podem mais se preocupar apenas em curar. Elas precisam levar em conta os impactos de suas práticas sobre o meio ambiente e as comunidades do entorno”, reforça o Dr. Eduardo Zlotnik, chairman do Comitê de Responsabilidade Social e Sustentabilidade do Einstein.
Internacionalmente, governos e organizações não-governamentais já estão mobilizados para mensurar e minimizar impactos. O sistema público de saúde inglês, por exemplo, tem como meta reduzir em 80% suas emissões até 2050, tendo os números de 2007 como referência. Nos Estados Unidos, onde há 20 anos se alastra uma “onda verde” no campo da medicina, é forte a atuação de entidades com a Health Care Without Harm (Saúde Sem Dano) e a Practice GreenHealth (Prática da Saúde Verde). Também nesse país, são notáveis as ações de associações hospitalares como a Kaiser Permanente. Congregando dezenas de instituições com poder de compra bilionário, essa associação vem imprimindo importantes mudanças em toda a cadeia de suprimentos hospitalares, exigindo produtos e equipamentos mais sustentáveis e vetando matérias-primas consideradas nocivas à saúde e à natureza.
Iniciativas no Brasil
Cientes de que a prática médica acontece numa rede de causa e efeito, hospitais de primeira linha no Brasil também vêm inovando para se transformar em instituições sustentáveis, ou seja, serem capazes de conciliar o cuidado e a segurança dos seus pacientes com a preservação da natureza e o desenvolvimento das comunidades. "Afinal, o conceito de sustentabilidade hospitalar está ancorado em três dimensões indissociáveis e interdependentes: econômica, ambiental e social", ressalta o Dr. Zlotnik.
O que está em foco, de acordo com o Dr. Tucherman, são os três grandes desafios dos sistemas de saúde neste século XXI. O primeiro diz respeito aos gases de efeito estufa e seus reflexos no clima, gerando secas, catástrofes, afetando a produção de alimentos e favorecendo doenças e endemias. Quem vai acolher essas pessoas são as instituições de saúde. O segundo é o envelhecimento da população, que também vai demandar esses serviços em função das doenças crônicas e cânceres, que aumentam com a combinação da idade e fatores adversos, tais como produtos químicos e alimentos contaminados. E, finalmente, há o impacto das escolhas pessoais: sem educação e conscientização das pessoas sobre práticas saudáveis (alimentação, atividades físicas, não fumar, etc.), as doenças aumentam. Somadas essas condições de um lado e, de outro, o déficit de leitos hospitalares e os progressivos aumentos dos custos da saúde em razão das novas drogas e tecnologias configura-se um ciclo extremamente perverso.
Por tudo isso, fazer diferente não é mais uma opção. É uma exigência. E hospitais de primeira linha, o Einstein entre eles, têm dado passos decisivos nessa direção, adotando a sustentabilidade como diretriz estratégica, presente nas suas operações diárias, em programas educativos, em processos mais inteligentes e eficientes. O Einstein é pioneiro entre as instituições de saúde no Brasil a aderir ao GHG (Greenhouse Gas) Protocol, protocolo internacional de gestão das emissões de gases de efeito estufa. Trata-se de um sistema que envolve a medição das emissões, visando monitorá-las, adotando-se ações para reduzi-las ou compensá-las. “Em vez de compensar plantando árvores ou comprando créditos de carbono, optamos por investir em eficiência, que traz resultados mais frutíferos. Eficiência permite minimizar os impactos ambientais e sociais e, ao mesmo tempo, otimizar recursos para aplicá-los naquilo que mais importa: a prestação de serviços de saúde”, afirma o Dr. Tucherman.